28 de abril de 2012

Lua cheia

FOTO: Carlos Fernandes

Poder-se-á aprisionar a lua cheia? Haverá grades tamanhas ou muralhas tão poderosas que a possam reter? Que impeçam o seu terno sorriso de desamortalhar os campos da nocturna capa de breu?
Não! Toda a gente sabe que a lua é livre. Toda a gente sabe que o luar não tem dono. Tal como os gatos vadios, que por isso a reverenciam e louvam sobre os telhados.
Descomprometida, na sua inquietude, toda a noite jornadeia entre o horizonte e o zénite. Até que a treva se rasgue e renasça a alvorada.

Longos cabelos de prata
Sobre o colo de alabastro -
Sorridente e nua.

Quem rasga o manto da noite?
- Não vês que é a lua?

2 de abril de 2012

As tábuas do cais

FOTO: Carlos Fernandes

Poderiam ser as tábuas de um cais, ligando as margens de um rio sereno ou acolhendo viajantes de diferentes continentes. Poderiam ser as tábuas do varandim do palácio onde as mãos da filha do comandante da Nau Catrineta tecem reinos imaginários no bastidor de linho. Poderiam ser até as tábuas da própria Nau Catrineta, animadas pela promessa do retorno a casa, da qual só resta a vaga memória de um odor a pão acabado de cozer…

A brisa da manhã
Desvenda o horizonte
Para lá da espuma.

É um navio que chega
Ou uma ilusão da bruma?