30 de junho de 2013

A lenta erosão do tempo

FOTO: Carlos Fernandes
Ferro e pedra, arrancados ao seio da terra, são os materiais preferidos dos construtores de cidades. Moldados pelo fogo, com eles se armam as silhuetas das vertiginosas estruturas que recortam o horizonte. Robustos e poderosos, são imunes aos ímpetos do vento e da chuva em dia de temporal e resistem firmes aos próprios abalos telúricos. Na soberba dos homens, são presumidamente eternos. Mas o tempo é um bicho paciente que tudo devora. Ferro e pedra, como a efémera carne de servos e reis, tudo tornará um dia à poeira primordial.

Irmãos da ferrugem
Que rói o duro metal
- os fungos na pedra.

Agentes e testemunhas
Da lenta erosão do tempo.

2 de junho de 2013

Num feixe



FOTO: Carlos Fernandes

Secam as canas ao sol. Atadas em feixes, parecem ganhar uma robustez e uma resistência que individualmente nunca tiveram. Serão talvez reutilizadas como suporte dos vegetais da horta, para uma cerca temporária ou para cobrir um alpendre. Sendo-o ou não, se verá que essas qualidades são apenas ilusórias. Acabada a sua vulgar conveniência, irão arder num lume breve, no final da estação.
Assim parece quererem fazer à humilde gente alguns mal disfarçados admiradores do pérfido «fascio», que tão grande tragédia trouxe à Humanidade.

Soluça o regato –
O verde canavial
Foi cortado cerce.

Já não baila a fresca brisa
De braço dado com as canas.