FOTO: Carlos Fernandes |
Os longos pilares de cimento e aço atravessam o vale, aprumados
como as colunas de uma catedral. São quase belos, não fora o facto de sustentarem
as vigas de um progresso questionável. Símbolos da arrogância humana, fazem
tábua rasa da geologia, alinhando o que é naturalmente desalinhado. Mas é falsa
a sua imagem de solidez eterna: em menos de um século, irão ceder e
desmoronar-se. E o que é um século para o paciente rio que canta lá em baixo?
Foi ele quem cavou o vale…
Rumoreja o rio
ao ritmo das estações
- com a voz das águas.
Vai abraçar-se com o mar,
lavando penas e mágoas.