5 de abril de 2022

Do brincar

 


Pegas-me na mão e dizes:
- Anda, vamos brincar.

Mas eu respondo:
- Não posso. Agora, não.
Não tenho tempo para jogar.

Ao ver no teu rosto
A sombra da desilusão,
Ensombro-me também eu.

Recordo, num canto
Da prateleira, esquecido,
Um velho brinquedo
Que um dia foi meu.

E dou conta que o menino
Que já fui e em mim mora
Ganha pó, adormecido,
No esconso museu
Do meu coração.

Algo em mim estremece.
Lembro, num baque,
Que o tempo acontece,
Gozemos nós dele ou não.

Acordo então o tal petiz
Do remanso dos dias
Em que fui feliz
E refaço a resposta:

- Agora, sim, pode ser.
Vamos, vamos brincar,
Porque brincar é viver.

16 de janeiro de 2022

Penteia-se a donzela


Penteia-se a donzela
Reclinada em verde manto.

Não é de oiro o pente
Ou de seda a camisa.

Mas nem por isso
é menos bela...

O seu cabelo de pétalas
Quem o penteia
É a brisa.