Pegas-me na mão e dizes:
- Anda, vamos brincar.
Mas eu respondo:
- Não posso. Agora, não.
Não tenho tempo para jogar.
Ao ver no teu rosto
A sombra da desilusão,
Ensombro-me também eu.
Recordo, num canto
Da prateleira, esquecido,
Um velho brinquedo
Que um dia foi meu.
E dou conta que o menino
Que já fui e em mim mora
Ganha pó, adormecido,
No esconso museu
Do meu coração.
Algo em mim estremece.
Lembro, num baque,
Que o tempo acontece,
Gozemos nós dele ou não.
Acordo então o tal petiz
Do remanso dos dias
Em que fui feliz
E refaço a resposta:
- Agora, sim, pode ser.
Vamos, vamos brincar,
Porque brincar é viver.