(à Beatriz)
afagando
a pele enrugada do rio
as andorinhas
matam a sede em pleno voo
vêm e vão com a brisa
que brinca nos teus cabelos
enquanto nadas
rasando as águas
como as andorinhas
Da tradição poética oriental recolhi as influências, necessariamente contaminadas pelo contexto cultural que me rodeia. E assim se desfia este «diário poético», feito com as miudezas do dia a dia. [Esta página é redigida em total desprezo pelo actual (des)acordo ortográfico]
30 de junho de 2004
27 de junho de 2004
serei eu o barco
serei eu o barco
abraçado à margem
que pergunta às nuvens
que passam
pela emoção da viagem
que nunca viu
na vastidão dos mares
senão uma miragem
que se contenta
com o sorriso da lua
sobre a quieta paisagem
e olha no espelho
das águas onde apodrece
procurando a sua imagem
serei eu o barco
ou uma sombra de passagem
abraçado à margem
que pergunta às nuvens
que passam
pela emoção da viagem
que nunca viu
na vastidão dos mares
senão uma miragem
que se contenta
com o sorriso da lua
sobre a quieta paisagem
e olha no espelho
das águas onde apodrece
procurando a sua imagem
serei eu o barco
ou uma sombra de passagem
25 de junho de 2004
Verão
São como lumes
crepitando
entre a folhagem.
Ó águas do rio:
mandai calar as cigarras.
A vós me entrego -
à míngua de frescura
à míngua de silêncio.
crepitando
entre a folhagem.
Ó águas do rio:
mandai calar as cigarras.
A vós me entrego -
à míngua de frescura
à míngua de silêncio.
23 de junho de 2004
22 de junho de 2004
21 de junho de 2004
20 de junho de 2004
À sesta
Foto: Carlos Fernandes
O calor de Junho debruça-se sobre os telhados, entranhando-se até nas mais acanhadas vielas. Em penumbra se emudecem as casas fechadas: tenta-se em vão conservar a frescura entre as grossas paredes. A quietude é apenas quebrada pelo zumbir dos insectos e pelo eco das horas na torre sineira. Nem o sussurro das rezas, nem o ladrar dos cães… A aldeia deixa-se mergulhar na modorra e dormita um sono breve.
No torpor da sesta -
O sol açoita os telhados
Das casas fechadas.
Só o zumbido das horas
Quebra o sossego da tarde.
19 de junho de 2004
Pregão
do ardor da carne
emerge a palavra
na ebulição do sangue
sublimada
disputando o vento
corre o horizonte
sorvendo o ar frio
na praia serena
reclina-se um pouco
sobre o areal
tomando alento
no beijo da espuma
e ao sol do crepúsculo
ateia o poema
18 de junho de 2004
16 de junho de 2004
15 de junho de 2004
alentejo
calam-se as aves
adormece na planura
o bafo do estio
só a água do regato
quebra o silêncio da tarde
e desmente a sede
14 de junho de 2004
10 de junho de 2004
A Camões
Chorai ninfas do Tejo
e do Mondego
que o fraco batel do Poeta
naufragou
quando em apagada
e vil tristeza
a pátria que ele amava
se afogou
caladas estão a lírica
e a epopeia
que um dia à gente surda
ele cantou
das lívidas mãos
tombaram já
a dura espada e a doce pena
que empunhou
chorai ninfas, chorai,
chorai bem alto,
que o fraco batel do Poeta
naufragou
9 de junho de 2004
8 de junho de 2004
6 de junho de 2004
5 de junho de 2004
3 de junho de 2004
Saturnal
descem pelas dunas
os ébrios ventos
o ardor do cio atiçando o olhar
nos lábios molhados
uma prece pagã
zunindo na areia à luz do luar
em louca folia
correm praia fora
fecundando a noite co'a espuma do mar
os ébrios ventos
o ardor do cio atiçando o olhar
nos lábios molhados
uma prece pagã
zunindo na areia à luz do luar
em louca folia
correm praia fora
fecundando a noite co'a espuma do mar
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