FOTO: Carlos Fernandes |
Por detrás do enorme portão gradeado de uma casa senhorial,
um feroz cãozarrão tomava-se de razões perante um minúsculo ratinho:
- Mas quem és tu, insignificante criatura, para te atreveres
a pisar a minha sombra? Saberás, por acaso, com quem estás a lidar? Olha para o
meu porte, para a imponência dos meus músculos, para os meus possantes colmilhos,
sinais inequívocos da minha força, da minha bravura e da minha nobreza. Fica
sabendo que sou macho premiado nos mais concorridos certames caninos, desejado
e farejado por tudo quanto é cadela de raça…
Sem perder a compostura, embora sentindo o coraçãozito
agitado como folha em dia de vendaval, o ratinho ia recuando disfarçadamente em
direcção ao portão. Vendo que o atroz canídeo cerrava os olhos, embriagado pelos
arroubos do auto-elogio, logo se escapuliu por entre o gradeamento. E, já do
outro lado, fez ouvir a sua vozinha:
- De que te servem agora a tua nobreza, a tua bravura e a
tua força, prisioneiro que és dessas grades, ó cão? Posso ser pequeno e insignificante,
indigno até de pisar a tua sombra, mas ao menos sou livre! Poderás tu dizer o
mesmo?
O cãozarrão baixou as orelhas e meteu o rabo entre as
pernas. O ratinho lá foi à sua vida.
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