Da tradição poética oriental recolhi as influências, necessariamente contaminadas pelo contexto cultural que me rodeia. E assim se desfia este «diário poético», feito com as miudezas do dia a dia. [Esta página é redigida em total desprezo pelo actual (des)acordo ortográfico]
1 de fevereiro de 2010
O despertar das asas
Foto: Carlos Fernandes
«Bom dia, nuvens». Acabei agora mesmo de abrir os olhos, para lá da fina casca do ovo onde fui engendrada. Encarei, num relance, toda a imensidão do azul celeste e divaguei um pouco na deriva dos cirros, dos cúmulos e dos nimbos. «Esperem por mim», disse.
Estranhei, no entanto, que a videira não se tenha ainda animado com o viço da Primavera. Porque estou com fome, com muita fome... Uma fome insana que me compele a devorar o vegetal domicílio que me sustém… A mascar pacientemente cada folha, deixando apenas a nervura que lhe dá forma… Dia e noite, sem parar. Até que o meu corpo, então rotundo, se adormente por um tempo num casulo de seda brilhante e aí se transforme…
Um dia, o bafo tépido da brisa voltará a despertar-me. E então direi, de novo: «Bom dia, nuvens. Acabou a espera. Agora tenho asas!»
ao nascer do sol -
acorda a tosca lagarta
e põe-se a comer
embalada pelo sonho
das asas que há-de ter
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