25 de setembro de 2011

Baile de gala

 FOTO: Carlos Fernandes
Disse o vento, enovelando as folhas caídas pelo chão, numa espiral inquieta:
- É chegada a hora, minhas filhas. É chegada a hora do baile de gala.
E arrancando das entranhas a toada de mil instrumentos, pôs-se a soprar uma frenética sinfonia. As folhas, embaladas pelo ímpeto vigoroso do mestre, iniciaram uma coreografia arrojada. Num ritmo crescente, restolharam, rodopiaram e remoinharam, subindo e descendo nos ares, em vertiginoso torvelinho. Até que a chuva, com a sua voz de água corrente, as chamou à razão:
- Acalmai-vos minhas filhas. É hora de descansar. Já podeis voltar de novo ao seio tutelar da Terra. Aconchegai-vos no húmus, bem junto às raízes, e adormecei. A Primavera vos despertará, refeitas em seiva, e logo voltareis a adornar os braços das árvores.

Às ordens do vento -
Num bailarico demente
Giram folhas secas

Até que a chuva as acalme
E adormeçam sobre a terra.

Carlos Alberto Silva
23 Setembro 2011
(primeiro dia de Outono)

4 comentários:

  1. Inspiração da mais pura poética. (muito bom!)
    Abraços!

    ResponderEliminar
  2. Adoro vir aqui

    O que escreves e depois os versos minimalistas
    São TANKAS ?

    ResponderEliminar
  3. Olá Elisa.
    Sim, são tankas.
    Obrigado pelo comentário, ao Júlio também.
    Um abraço poético.
    CAS

    ResponderEliminar
  4. Carlos
    Voltei para reapreciar o seu maravilhoso texto e tanka.
    Obrigada.

    Abraço daqui.

    ResponderEliminar