30 de março de 2005

no cerne
do livro

a memória
da árvore

transpira
palavras

27 de março de 2005

páscoa

roxa e trémula

a pervinca
diz adeus à brisa

que passa a correr

a ver a procissão
no pomar florido

18 de março de 2005

no regaço


no regaço
do pinheiro manso
há uma casa de sombra
onde descanso

11 de março de 2005

bela adormecida

ao beijo do sol
desperta a Primavera
na flor do salgueiro

5 de março de 2005

Oráculo marinho

Sentado na duna
sob o pálido sol de Março
indago o oceano

Porque tarda a Primavera?

E o imenso espelho líquido
serenamente se agita
como uma mulher madura
balançando as ancas
e nada me diz

Pergunto a uma gaivota
porque persegue ela
o vai e vem das ondas
se logo em espuma se desfazem
na orla da praia

E num grito me responde:

- Não te esqueças que a vida
é feita de desencontros
e que o vento há-de apagar
o rasto das tuas pegadas.