27 de maio de 2012

A canção do rio

FOTO: Carlos Fernandes

Os longos pilares de cimento e aço atravessam o vale, aprumados como as colunas de uma catedral. São quase belos, não fora o facto de sustentarem as vigas de um progresso questionável. Símbolos da arrogância humana, fazem tábua rasa da geologia, alinhando o que é naturalmente desalinhado. Mas é falsa a sua imagem de solidez eterna: em menos de um século, irão ceder e desmoronar-se. E o que é um século para o paciente rio que canta lá em baixo? Foi ele quem cavou o vale…

Rumoreja o rio
ao ritmo das estações
- com a voz das águas.

Vai abraçar-se com o mar,
lavando penas e mágoas.