29 de março de 2008

Mensageiros do sol


FOTO: Carlos Fernandes

No final de Março, um grito de cor dilacera as obscuras entranhas da invernia, irradiando por prados e taludes, à poalha dourada da manhã. Nem grades nem muralhas embargam a emergência destes mensageiros do sol, numa renovada promessa de luz. Acorda a natureza da sua longa apatia, na vitalidade da seiva, e o ar reveste-se de novos e delicados odores. É Primavera!

Vicejam os prados -
O sol já mandou recado
pelas flores silvestres:

A Primavera chegou.
É hora de acordar!

24 de março de 2008

A distorção do tempo


FOTO: Carlos A. Silva

O que resta
de uma vida inteira
nas linhas distorcidas
da pauta do tempo?

Apenas um sussurro,
um eco perdido,
uma melodia vaga...

20 de março de 2008

Azul


FOTO: Carlos A. Silva

Quando o azul desabrocha entre as ervas, é sinal que a Primavera não tarda.

16 de março de 2008

Rendilhados de luz e sombra


FOTO: Carlos A. Silva

É por vezes no recorte das sombras que a luz mais se afirma, revelando a secreta intimidade das coisas.

8 de março de 2008

Resistir

Quando o medo tolhe o canto nas gargantas
e à viva voz se sobrepõe a voz do dono
é preciso resistir

Quando a razão se verga ao jugo do mais forte
e a palavra desfalece na mordaça
é preciso resistir

Quando a semente da calúnia cai à terra
e o ar se enche com o rosnar do mostrengo
é preciso resistir

Quando a verdade se embaça sob os panos
e enverga a canga do discurso oficial
é preciso resistir

E quando sopra o vento gélido da cobiça
e o pudor se torna servo da abastança
é preciso resistir

E quando a mágoa for a moeda de troca
com que nos pagam o labor de uma vida
é preciso resistir

E se o silêncio for a arma que nos resta
e só a rua for bastante para gritar

aí estaremos
assim faremos

a resistir
a resistir

2 de março de 2008

a persistência da raiz


FOTO: Carlos Fernandes

Mesmo quando amputada da árvore, a raiz continua tenazmente agarrada ao chão, até que nada mais reste senão pó e cinza, devolvendo à terra o influxo que a susteve.
Mas quantas vezes aquela não emerge de novo, na perseverança da seiva, voltando a encher o ar de vegetais perfumes.


o cheiro a resina
flúi do corpo decepado
apenas raiz

e perfuma a colina
como um verso que se diz