26 de julho de 2011

Equívoco estival


 FOTO: Carlos Fernandes

Corria ansiosa pela rua uma leve folha de árvore, aproveitando o ímpeto ocasional da brisa. Um pampilho, com quem ela se cruzou, questionou-a:
– Porque corres tu tão ansiosa, ó leve folha de árvore?
– Vou juntar-me à maratona do Equinócio – disse-lhe ela. – Senti em mim uma ânsia que me secou o pecíolo e me alourou o limbo e isso só pode ser o apelo do Outono, dando ordem para que me lance nesta demanda…
– Enganas-te – volveu-lhe o malmequer amarelo. – O Verão ainda agora se acendeu na forja do sol. Muito falta para que o fole de Bóreas venha dissipar as cinzas do estio e o Outono possa reinar entre nós.
Mas a ansiosa e leve folha de árvore não quis saber e continuou a sua insana correria. Até que uma alta muralha lhe impediu o curso e a folha ali se aquietou, consumindo-se num breve e ligeiro húmus.

Porque corre a folha
– empurrada pela brisa –
em busca do Outono

Se ainda no adro vai
o cortejo do estio?

3 de julho de 2011

As novas castelãs

FOTO: Carlos Fernandes

Palco de antigas glórias que o tempo mitificou, já nada mais resta do velho paço que as pedras nuas – ou pouco mais – que lhe dão ainda um ar da sua remota imponência. E, no entanto, não há viajante que por ali passe que resista a subir ao alto da colina e a trepar ao que resta das muralhas, para fruir um breve mas largo relance sobre o horizonte. Que o digam as andorinhas das rochas, entregues à mornidão das lajes lambidas pelo sol, tornando-se agora nas novas castelãs.

no velho castelo –
repousam as andorinhas
ao sol da manhã

não querem saber de glórias
nem de guerras e tratados