24 de outubro de 2014

Cavalos no prado


Cavalos no prado –
um bailado ruminante 
na tarde de Outono.

25 de abril de 2014

havia naquela manhã de abril




[A Salgueiro Maia, nos 40 anos do 25 de Abril]

havia naquela manhã de abril
um odor a cravos
perfumando a cidade

eram brancos, vermelhos, matizados
da cor dos sonhos oprimidos
sem idade

havia no ar primaveril
um som de vozes
bailando à toa no eco das ruas

eram risos, cantos, brados festivos
arrojados do mais fundo
das almas nuas

havia no radioso céu de anil
uma alegria pura
sem conta nem medida

e uma maré de gente laboriosa
tomava por fim nas mãos
o rumo da sua própria vida

Carlos Alberto Silva
25-04-2014

5 de fevereiro de 2014

Ácidas sinetas





Ácidas sinetas -
Um tilintar amarelo
Ao sabor da brisa.

Lampejos de primavera
Salpicando os verdes prados.

*

1 de fevereiro de 2014

Uma espada chamada Maria



FOTO: Carlos Fernandes
Desafiando o poente, o vulto de um herói de outras eras. A sua espada - à qual este deu o nome de Maria - aponta o céu. «Forte Nuno» lhe chamou Camões, declarando «ditosa» a Pátria «que tal filho teve». Mas tudo nos diz que, na defesa da lusa independência, ao lado dos guerreiros, também o povo simples deu o sangue e a vida.
Cai a noite. Um vento de temporal reproduz os ecos de Aljubarrota. Ao longe, entre o tilintar das armas, uma voz entoa:
- Às armas! Às armas! Pelo povo de Portugal. Contra os Andeiros, marchar, marchar.

Ecoam no vento
O estrépito das armas
E gritos remotos

- É a bravura dos avós
Nos campos de Aljubarrota.

2 de janeiro de 2014

O deus dos ladrões


FOTO: Carlos Fernandes
Os gregos chamavam-lhe Hermes, os romanos, Mercúrio. Mensageiro dos deuses, tinha nos pés umas pequenas asas, que lhe permitiam descolar-se à velocidade da luz. Atribuíram-lhe mais funções que a qualquer outra divindade da mitologia, mas é conhecido sobretudo como o deus da eloquência, dos comerciantes e dos ladrões. Três atributos muito em voga nos tempos que correm, a lembrar certas personalidades que decidiram não deixar pedra sobre pedra, neste recanto de gente pacífica. Embora de moral duvidosa, Hermes conseguiu sempre o apoio dos Poderosos. E os que por cá lhe seguem o exemplo, parece que também.

É o deus dos ladrões -
Traz na mão o caduceu
E um chapéu alado.

Voa, sem sair do sítio,
Sob o pó acumulado.