4 de dezembro de 2017

O sono de Ícaro


acordei com o odor
da tua ausência

coloquei as asas
e fui em busca de ti
pelos insondáveis
labirintos do mundo

resistindo
à vertigem do sol

17 de outubro de 2017

O vento arrasta a cinza


Em 2004, quando foi escrito, este poema tinha as palavras «o pólen» no lugar das palavras «a cinza». Fica a homenagem aos que combateram e sofreram com os incêndios de 15 e 16 de Outubro de 2017, em particular no Pinhal de Leiria.

Num ligeiro remoinho 
o vento arrasta a cinza 
das flores do verde pino. 

E traz consigo a memória 
do velho rei trovador: 
- Ai flores do verde pino. 

Quem suspira mansamente 
pelos pinhais do litoral? 
Será o vento ou o mar? 

Ou serão ainda os ecos 
duma cantiga de amigo? 
- Ai flores do verde pino. 

Perdida na bruma densa
do tempo sem remissão 
soa a mágoa do poeta: 

- Ainda ouvis minha voz? 
Ainda vos lembrais de mim 
ó flores do verde pino? 

Mas só responde o murmúrio 
do vento que arrasta a cinza 
das flores do verde pino.