5 de julho de 2009

o olhar do pássaro


FOTO: Carlos Fernandes

Era um pássaro com olhos de céu. Neles morava o brilho do sol e o rumor da folhagem num dia de vento, o rasto ondulante do rio lambendo a planície, o vigor de uma canção alegre, o ténue perfume de um gole de água fresca numa tarde de Verão.
O céu nos olhos do pássaro não tinha margens, nem muros, nem grades, nem limites de qualquer espécie. Era um céu aberto, sem nuvens, sem mancha nem mácula.
O pássaro com olhos de céu aprendera no silêncio a mais requintada das melodias. Imóvel no seu poleiro, ensaiava a vertigem do voo no infinito da paisagem.

num voo errante -
paira sobre o horizonte
o olhar do pássaro

traz em si a melodia
delicada do silêncio