Da tradição poética oriental recolhi as influências, necessariamente contaminadas pelo contexto cultural que me rodeia. E assim se desfia este «diário poético», feito com as miudezas do dia a dia. [Esta página é redigida em total desprezo pelo actual (des)acordo ortográfico]
29 de janeiro de 2012
Haiku
Haiku from Jurriën Boogert on Vimeo.
Uma flor cadente
Vi voltar para o seu ramo
- Oh, uma borboleta.
Arakida Moritake (1473 / 1549)
[tradução de Carlos A. Silva]
27 de janeiro de 2012
Sem abrigo
FOTO: Carlos Fernandes
Se às pessoas sem casa se chama «sem-abrigo», o que chamaremos às casas sem pessoas? Certo é que o abandono as corrói e arruína, tal como a fome, o frio e a doença fazem aos desabrigados. E como destroços se esboroam umas e outros pelas ruas da cidade velha, à míngua de calor, à míngua de amor…
mantêm-se as pedras
na teimosia da casa
- ainda paredes
mas o tempo e o desamparo
acabarão por vencê-las
8 de janeiro de 2012
Caminhada de Ano Novo
FOTO: Carlos Fernandes
Tanto que andaste, senta-te nessa pedra e recobra o alento. Escuta o silêncio, que até as aves se calaram por um momento. Apenas um leve rumor quebra o sossego do vale dormente. Ouves, naquela voz sussurrante, o cântico cristalino e fresco da água corrente? Serão as ninfas do rio que acordam nas profundezas da grota? Ou o pranto da montanha de cujo seio a corrente brota? Ou é simplesmente a Terra que respira de mansinho… Mesmo que o não saibas, já valeu a pena. Ganhaste um novo fôlego, podes continuar o caminho.
à beira do rio -
o viandante repousa
da longa jornada
o silêncio traz-lhe o alento
p’ra seguir a caminhada
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