1 de dezembro de 2023

Entardecer outonal


Entardecer outonal:
sobrepõem-se as tintas
do poente
às sombras do olival.

13 de setembro de 2023

Eu vi o futuro envelhecer


Eu vi o futuro envelhecer,
no espelho onde todos os dias me barbeio.
Um futuro que acordou, novinho em folha,
naquela manhã de abril gloriosa e limpa
cujos ecos ressoam ainda no éter da memória.
Era um jovem de 15 anos, tal como eu,
pleno de ideais adolescentes
de um mundo justo, de uma nova história.
E os olhos brilhavam-lhe com a certeza
de que a estrada à sua frente seria
um épico romance em que o amor tudo vencia.

E tudo haveria de valer a pena:
todas as canções, todas as flores,
todos os poemas titubeantes,
todas as alvoradas a anunciar o dia,
todas as lutas, todas as dores,
todos os beijos, todos os abraços,
todos os gritos de pura alegria,
todas as danças, todos os passos
marcados na poeira dos caminhos.

Mas, 50 anos depois, vejo que o futuro mentiu.
E nos seus avanços e recuos
ao longo da estrada que para trás ficou,
perjurou, falseou, traiu,
deixando apenas pela metade
as belas promessas que cantou.
Podeis argumentar que parte dessa tragédia
é culpa minha, culpa nossa,
porque não fiz, não fizemos, o suficiente,
na tecitura fluída do presente,
para que o futuro se mantivesse
moço e fresco como a utopia
com que fomos adoçando cada dia.

De que nos vale isso agora,
se nos soube a pouco a vida
e o futuro nos escapou por entre os dedos
e simplesmente envelheceu?

50 anos depois daquela manhã gloriosa e limpa,
do outro lado do espelho
onde todos os dias me barbeio,
há apenas um rosto vago, de olhar turvo,
à luz parda do sol de outono,
e o vai e vem da lâmina de barbear
num movimento errático e surdo,
fustigando a alma desiludida.

Carlos Alberto Silva
13/09/2023

29 de junho de 2023



inspiro o aroma da tarde

nas fímbrias do Verão

acabado de chegar


cheira a alecrim

a erva recém cortada

e a fruta a amadurar


refresco os olhos

num breve fio de prata

que bordeja o pomar


as águas ainda gélidas

trazem memórias de infância

no seu doce murmurar


e o meu pequeno mundo

torna-se vasto e inteiro

apenas num olhar


Carlos Alberto Silva

29-06-2023


25 de abril de 2023

Trovas de Abril


Não morreu ainda o sonho
Feito verdade em Abril,
Por muito que alguns queiram
Levar-nos de novo ao redil.
Não morreu, mas fica em risco,
Se adormecermos ao soalheiro,
Deixando livre a tribuna
Aos lobos com pele de cordeiro.
Por isso, vamos, alerta,
Unidos contra a mentira.
Está em causa a Liberdade
E essa ninguém nos tira.
Para que o sonho conquistado
Nesse dia sem idade
E as promessas que deixou
Continuem a ser verdade.

14 de abril de 2023

Na glicínia em flor

Na glicínia em flor -
Um zumbido anuncia
O labor da abelha.