6 de setembro de 2004

erguemos a nossa casa

(à Isabel)

erguemos a nossa casa
no dorso agreste da falésia
cravadas as raízes
no duro músculo da pedra
e os olhos das janelas
atentos ao brilho do horizonte

erguemos a nossa casa
no ventre fecundo da planície
cravadas as raízes
na plástica carne da argila
e os olhos das janelas
atentos ao mover da seara

erguemos a nossa casa
nas entranhas húmidas da floresta
cravadas as raízes
entre as tenras veias das árvores
e os olhos das janelas
atentos à comoção da folhagem

erguemos a nossa casa
no peito rude da cidade
cravadas as raízes
na estéril rigidez do betão
e os olhos das janelas
atentos ao frenesim do tráfego

e nem a audácia das ondas
nem o uivo dos ventos
nem a bofetada da chuva
nem a fúria dos homens
abalaram a sua frágil argamassa
amassada com o teu e o meu suor

1 comentário:

  1. Vim agradecer as suas gentis palavras. E, sem demagogia nem simpatia virtual, quero dizer-lhe que é um POETA. E que poeta! Tem aqui poemas maravilhosos. Voltarei para o ler.
    Muito obrigada.

    ResponderEliminar