15 de junho de 2009

A sombra do aço


FOTO: Carlos Fernandes

O amplexo dos cabos sustém a gigantesca espínula que aguilhoa o dorso íngreme da serra, arreigando à terra a avidez vertical do lucro. Corrompendo a sua natural disposição. Domando-a, como um cavalo selvagem transformado em triste muar de carga.
Já a força bruta das máquinas lhe devorou, a pouco e pouco, os flancos, no rasgão obsceno das pedreiras. E o desmazelo dos homens a transmutou em mero pátio de despejos.
Assim se engendra um progresso que todos sabem falso. Feito da ambição perdulária de quem não tem amanhãs.

A sombra do aço
marca a ilharga da serra
- qual metal em brasa

desdizendo a evidência
de que o mundo é a nossa casa.

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