1 de novembro de 2009

Sob um céu de algodão


FOTO: Carlos Fernandes

Sob um céu de algodão e índigo, as linhas do casario entrecruzam-se com as do escasso arvoredo. O reflexo nas janelas mimetiza o cenário circundante, replicando as entrecruzadas linhas na metamorfose da luz. Das pedras da calçada chega-nos o som arrastado de passos, assoberbados pelo peso das memórias de mui remotas paragens, palmilhadas enquanto durou o alvoroço de uma vida inquieta. E consigo vêm também o cheiro das especiarias e o eco dos pregões de longínquos mercados. Aqui e agora, resta-lhes apenas o murmúrio abafado do tráfego vespertino. Mas não faz mal. Também noutras cidades as linhas do casario se entrecruzam com as do arvoredo, sob um céu de índigo e algodão.

Entardece o corpo
Carregando as memórias
De uma vida cheia

Como um livro recheado
De cheiros, sons e sabores

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