6 de dezembro de 2003

Carvalho entre prédios

Há locais por onde passamos sucessivamente sem dar por nada. Até que um dia, sem qualquer razão aparente, talvez devido à inclinação da luz, ao sussurro da brisa ou ao imprevisto do momento, o nosso olhar é estimulado por um pormenor que sempre lá estivera, mas do qual nunca havíamos dado conta.
Pode ser pequeno e insignificante como uma mancha de terra, uma flor entre pedras, uma marca num muro, ou grande e imponente como uma árvore antiga ou um prédio em ruínas. E nesse pequeno/grande pormenor confrontamo-nos não apenas com a natureza imediata das coisas, somos impelidos a atribuir-lhe um significado que até aí nos tinha estado oculto.
Foi assim que encarei aquele carvalho, circundado por prédios altos, mas seguramente muito mais antigo que qualquer das construções que o rodeiam.
É por certo uma réstia da cobertura vegetal ali existente antes da cidade para lá se ter estendido. Um vestígio do tempo em que a vida ainda não dependia tão completamente das máquinas e do betão como hoje depende.
Seguramente, um motivo de reflexão sobre o que queremos nós fazer do mundo que nos legaram os nossos avós e sobre que mundo queremos nós legar aos nossos netos…

Silhueta verde
No contraste das paredes -
Carvalho entre prédios.

Vestígio de um outro tempo
Encurralado pela urbe.

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