1 de agosto de 2009

Contraluz


FOTO: Carlos Fernandes

Aninhadas na fundura da carne, numa quietude que nada parece perturbar, as palavras detêm-se, mudas e serenas. Nem a bravata do vento, nem o desassossego das marés, nem a inclemência das tempestades as demove da sua invisível e imóvel existência. Mas vem uma certa inclinação do sol, um peculiar revérbero do astro-rei, um contraluz engendrado do intenso conflito entre a claridade e a sombra e logo o peito se abre à debandada. E as palavras, como vento na seara, fazem soar o tropel das sílabas, rumorejando ao entardecer.

dormem as palavras
nas profundezas do peito
- em doce apatia

basta o sol em contraluz
logo acorda a poesia

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