13 de dezembro de 2004

epidemia de natal


um bando de fogueiras aladas
atravessa os céus da avenida
e faz ninho nos postes de iluminação pública

estrelas carnívoras e gigantes cristais de gelo
apoderam-se das copas das árvores
donde escorrem longos pingentes de luz

uma miríade de seres eléctricos
toma conta dos mais improváveis recantos da cidade
e reinventa a claridade na longa noite invernosa

as gentes são tomadas de amnésia
e obliteram o quotidiano sobressalto da violência

feitas erráticas mariposas
esfregam os narizes no aquário das montras
como se disso dependesse a sua sobrevivência

sorvem avidamente o ar frio da noite
e suspiram
mergulhadas numa nostálgica felicidade
envenenada pela ideia de uma infância que nunca viveram

mas a chuva continua a ser tão húmida e viscosa como sempre
e fora do halo luminoso do consumismo
a noite continua a ser tão escura como todas as noites escuras

que estranhos fenómenos provoca a epidemia do natal

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