16 de julho de 2004

bates à porta

bates à porta. afagas as paredes com a língua do silêncio.
cravas as unhas na pele tenra da noite.
com mil anos de espera no sobrado dos olhos.
e a sede germinando oculta num vaso carmim.
 
bates à porta. para lá da entrada o ressoar das lajes.
o frémito da madeira. o gemido da cal.
o bocejo opaco da água. a claridade de um voo sem fim.
 
bates à porta. imitas o chilreio brando das aves pequenas.
as mãos que suplicam a submissão dos gonzos.
e adubas as asas com um braçado de lírios. antecipando o festim.
 
bates à porta. acendes a nudez da aurora com o teu corpo intacto.
sorris de mansinho. e como uma ladra profanas a porta fechada de mim.

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